quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

A IDÉIA DE ALIANÇA


1.      Aliança, pacto, testamento, concerto, seja qual for a tradução que se dê, é o hebraico berith.

a.      A idéia não é um pacto bilateral, em que duas partes se sentam para trocar idéias e ajustar termos de um contrato em que ambas opinam.
b.      A idéia é de algo imposto, sem possibilidade de mudar termos.
c.       Era a palavra usada para os contratos de vassalagem antiga, quando um reino ou uma potência vencia outra nação e lhe impunha seus termos. A parte vencida deveria se submeter à vencedora, e a parte vencedora se comprometia a protegê-la de outros inimigos. Isto é umberith.
2.      O conceito implícito no termo também se aplicava a uma nação que estava dominada por outra e uma terceira a libertava.
a.      Surgia o berith, depois da libertação, entre a nação libertada e nação que a libertara. Foi assim no Antigo Testamento. Israel era escravo do Egito. Deus o libertou e lhe trouxe seu pacto.
b.      Foi assim com a Igreja de Cristo. Éramos escravos do pecado(“Replicou-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é escravo do pecado” – Jo 8.34), mas Cristo nos libertou (“Para a liberdade Cristo nos libertou; permanecei, pois, firmes e não vos dobreis novamente a um jogo de escravidão” – Gl 5.1).
3.      A aliança entre Iahweh e Israel surgiu neste contexto: um poder mais forte que o Egito e Israel libertou este último e fez um pacto.
a.      É o contexto teológico da aliança feita conosco. Um poder mais forte que o pecado e o Maligno, Deus nos libertou e fez conosco um pacto.
b.      No primeiro pacto, Israel, até então uma massa de escravos, Deus o libertou da escravidão e o fez seu povo.
c.       No segundo pacto, nós nos tornamos povo de Deus no pacto feito em Cristo.
AS CARACTERÍSTICAS DA ALIANÇA FEITA EM CRISTO
1.      Nesta aliança, a nova, a característica primeira e maior é o perdão dos pecados como iniciativa divina.
a.      Antes, o hebreu do Antigo Testamento procurava por perdão.
b.      Na nova, visto que a antiga se mostrou ineficaz, Deus a oferece. Jeremias 31.34 mostra isso: “E não ensinarão mais cada um a seu próximo, nem cada um a seu irmão, dizendo: Conhecei ao Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor deles até o maior, diz o Senhor; pois lhes perdoarei a sua iniqüidade, e não me lembrarei mais dos seus pecados”.
c.       O texto paralelo de Ezequiel 36.25-27 corrobora a idéia de uma nova aliança com o perdão divino: “Então aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias, e de todos os vossos ídolos, vos purificarei. Também vos darei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne. Ainda porei dentro de vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis as minhas ordenanças, e as observeis”. 
d.      A correspondência se encontra em Hebreus 8.12 (“Porque serei misericordioso para com suas iniqüidades, e de seus pecados não me lembrarei mais”) e 10.14-17 (“Pois com uma só oferta tem aperfeiçoado para sempre os que estão sendo santificados. E o Espírito Santo também no-lo testifica, porque depois de haver dito: Este é o pacto que farei com eles depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei as minhas leis em seus corações, e as escreverei em seu entendimento; acrescenta: E não me lembrarei mais de seus pecados e de suas iniqüidades”).
e.      Em Hebreus 8.13, se acena com o fim dos sacrifícios judaicos: “Dizendo: Novo pacto, ele tornou antiquado o primeiro. E o que se torna antiquado e envelhece, perto está de desaparecer”. E também se observa a mesma linha de argumentação em Hebreus 10.18: “Ora, onde há remissão destes, não há mais oferta pelo pecado”.
f.        A oferta pelo pecado (Hattat) era o ato de reconciliação com Deus no culto judaico. Mas depois do sacrifício de Cristo, que trouxe o perdão, não há mais nenhum sacrifício por fazer.  O Hattat se tornou desnecessário porque Cristo resolveu, de uma vez por todas, o problema do pecado.
g.      Também os textos de 2Coríntios 5.19 e 21 mostram isto: “pois que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões; e nos encarregou da palavra da reconciliação (…)
h.      Jesus foi a oferta de nosso pecado. Àquele que não conheceu pecado, Deus o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus”. Deus tornou Cristo “pecado”, isto é, “oferta pelo pecado”, por nós. O judaísmo com seu sistema sacrificial perdeu sua razão de ser.
A segunda característica é a internalizarão da lei
1.      Antes, Deus estava fora do homem.
a.      O homem ia ao templo para achar Deus. Na nova aliança, Deus está no homem. Vejamos, ainda, Ezequiel 36.27, o texto em que este profeta também trata da nova aliança: “Ainda porei dentro de vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis as minhas ordenanças, e as observeis”. A motivação religiosa não está fora do homem, mas dentro dele. É o Espírito Santo que habita no cristão, e não as tábuas da lei mosaica.
b.      No Novo Testamento, com a aliança nova feita por Jesus, Deus mora em nós: 1Coríntios 3.16 (“Não sabeis vós que sois santuário de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós?”) e 6.19 (“Ou não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que habita em vós, o qual possuís da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos?”). Jesus já havia mostrado isso, que sua religião é interna, parte de dentro.
2.      A aliança feita com Israel culminou na doação da lei, em Êxodo 20.
a.      Mas a lei mosaica era externa, isto é, residia fora do homem. E fora posta em tábuas de pedra. Vejamos, a propósito, Êxodo 32.15-16: “E virou-se Moisés, e desceu do monte com as duas tábuas do testemunho na mão, tábuas escritas de ambos os lados; de um e de outro lado estavam escritas. E aquelas tábuas eram obra de Deus; também a escritura era a mesma escritura de Deus, esculpida nas tábuas”.
b.      Na aliança feita em Cristo, a lei é interna. Vejamos, para notar o contraste da nova aliança, os textos de Jeremias 31.33 (“Mas este é o pacto que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei no seu coração; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo”) e Hebreus 8.10 (“Ora, este é o pacto que farei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o Senhor; porei as minhas leis no seu entendimento, e em seu coração as escreverei; eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo”).
c.       O autor de Hebreus diz que a palavra de Jeremias se cumpriu com o advento do cristianismo. Neste, como prometido por Jeremias, a motivação para o relacionamento com Deus é interna.
Quando a lei foi internalizada a responsabilidade foi mudada.
Prestemos bastante atenção nos textos de Mateus 5.21-22 
Lei Externa: (“Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; e, Quem matar será réu de juízo. 
Lei Interna: Eu, porém, vos digo que todo aquele que se encolerizar contra seu irmão, será réu de juízo; e quem disser a seu irmão: Raca, será réu diante do sinédrio; e quem lhe disser: Tolo, será réu do fogo do inferno”), 5.38-41 
Lei Externa: (“Ouvistes que foi dito: Olho por olho, e dente por dente. Lei Interna: Eu, porém, vos digo que não resistais ao homem mau; mas a qualquer que te bater na face direita, oferece-lhe também a outra e ao que quiser pleitear contigo, e tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa; e, se qualquer te obrigar a caminhar mil passos, vai com ele dois mil”) e 5.43-44 
Lei Externa:“Ouvistes que foi dito: Amarás ao teu próximo, e odiarás ao teu inimigo”. Lei interna:Eu, porém, vos digo: Amai aos vossos inimigos, e orai pelos que vos perseguem”). 
Neste último texto, há uma particularidade a ressaltar. De onde veio tal idéia, de odiar os inimigos, que Jesus disse que seus ouvintes tinham ouvido anteriormente? A lei não mandava odiar os inimigos, mas os essênios, sim. Eles haviam divulgado sua mensagem e, provando que nao era um deles, Jesus os refuta. 
Jesus ultrapassa o ensino de Moisés e, de quebra, contesta o dos essênios
1.      Os judeus tinham transformado o pecado em questão de ritos, de cumprimentos da lei.
a.      Jesus põe-no em forma de sentimentos que motivam os atos. Por isto, o que contamina o homem é o que sai dele, e não o que entra nele: “Não é o que entra pela boca que contamina o homem; mas o que sai da boca, isso é o que o contamina. Então os discípulos, aproximando-se dele, perguntaram-lhe: Sabes que os fariseus, ouvindo essas palavras, se escandalizaram? Respondeu-lhes ele: Toda planta que meu Pai celestial não plantou será arrancada. Deixai-os; são guias cegos; ora, se um cego guiar outro cego, ambos cairão no barranco. E Pedro, tomando a palavra, disse-lhe: Explica-nos essa parábola. Respondeu Jesus: Estai vós também ainda sem entender? Não compreendeis que tudo o que entra pela boca desce pelo ventre, e é lançado fora? Mas o que sai da boca procede do coração; e é isso o que contamina o homem. Porque do coração procedem os maus pensamentos, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias. São estas as coisas que contaminam o homem; mas o comer sem lavar as mãos, isso não o contamina” (Mt 15.11-20). O bem e o mal estão dentro de nós, no coração, lêb ou lebâb, em hebraico, designando a interioridade volitiva do homem.
2.      Há um coração novo nos que crêem: “Também vos darei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne” (Ez 36.26) e “Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito estável” (Sl 51.10). Para os hebreus, o coração é a sede das decisões, das faculdades intelectivas e onde estão as faculdades de juízoHá uma nova razão, uma mentalidade nova.

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